E se o principal risco para a empresa é a sua liderança?

Má governança segue forte no Brasil e ameaça as organizações

As empresas enfrentam várias ameaças à sua sobrevivência e, por esse motivo, dedicam muito esforço a gerenciar seus riscos.

Nada mais frustrante, então, do que ver o trabalho de centenas, às vezes milhares, de pessoas envolvidas em um mesmo projeto ir para o brejo devido à incompetência ou desonestidade de seus líderes.

A má governança empresarial é um tema que a cada pouco tempo volta ao noticiário nacional. Nesta semana, discutimos suas causas e sintomas com alguns dos principais especialistas em governança do país.

A conclusão é que, se é verdade que avanços formais ocorreram nos últimos anos, na prática do dia-a-dia muitos chefes de empresas ainda resistem a se comportar bem. A RSB vai ficar de olho neste assunto, que, afinal de contas, é um risco e tanto para qualquer organização.

Outro de nossos temas preferidos é o mercado de seguros, e nesta semana conversamos com Sidney Cezarino, diretor de Seguros Patrimoniais da Tokio Marine, para conhecer mais sobre a estratégia da vice-líder dos segmentos de coberturas para empresas no país.

Para completar, falamos sobre o impacto no setor do choque de um navio contra uma ponte de Baltimore, nos Estados Unidos, em um episódio que tomou conta das telas dos celulares com suas imagens impressionantes. Não é todo o dia que se vê uma ponte desmoronando em tempo real.

Boa leitura!

Nesta edição:

Culturas tóxicas, conselheiros nada independentes, acionistas apáticos: má governança segue firme no Brasil

Escândalo das Americanas, no ano passado, levou a governança de volta às manchetes (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Dez anos atrás, o lançamento da Operação Lava Jato deu início a um processo de autocrítica entre as empresas ao tornar claro que a governança corporativa ainda deixava muito a desejar no Brasil.

Desde então, tem se falado sem parar em temas como a criação de áreas de compliance, reforço de controles internos, direitos de acionistas minoritários e o crescente papel dos conselheiros independentes – sintomas dos esforços feitos pelo mundo corporativo para aumentar a confiança em suas políticas de governança.

Isso não evitou que, nos últimos anos, pipocassem escândalos contábeis como o das Lojas Americanas, desastres ambientais derivados de falhas de gestão de riscos como os de Brumadinho, Mariana e Maceió, processos de recuperação judicial contestados como as da Oi e da Gol e muitos outros casos de má governança entre as empresas brasileiras.

Não é nem preciso rebuscar os arquivos dos jornais para encontrar exemplos de problemas de governança. Basta acompanhar as quedas dos valores das ações da Vale e da Petrobrás ocorridas recentemente, em grande parte como resultado de tentativas de intervenção do governo federal na gestão das duas empresas.

Fonte: Yahoo FInance

Mesmo o mercado de seguros, tão regulado e cauteloso por natureza, foi palco de um escândalo contábil e bursátil em 2020 envolvendo o IRB Brasil, um dos mais importantes players do setor. Nos últimos anos, a empresa teve que se reestruturar, moderar seu apetite de subscrição e até mudar de nome, para IRB(Re), a fim de dar uma polida em sua imagem.

A má governança corporativa prejudica acionistas, clientes, trabalhadores e comunidades, e também pode colocar em xeque a própria existência da empresa.

Por isso, trata-se de uma das principais ameaças enfrentadas pelas corporações e precisa estar no radar dos gestores de riscos – ainda que não sejam muitos os que, neste momento, contam com a possibilidade de dar um grito de alarme quando necessário.

A RSB conversou com alguns dos mais reconhecidos especialistas em governança corporativa do Brasil para o quanto se avançou no tema nos últimos anos. A conclusão geral é de que algo melhorou, mas ainda há muito o que fazer, e a situação continua em grande medida bastante espinhosa.

Acionistas poderosos demais

Diferentemente dos Estados Unidos, onde muitas empresas têm seu controle acionário disperso entre vários investidores, no Brasil prevalece um modelo em que uma família ou investidor possui um peso no capital votante muito maior do que o de outros acionistas.

Uma característica do mercado brasileiro é ter empresas com donos muito definidos, com um controlador definido. Quando há uma disputa societária, há um desequilíbrio muito forte entre os acionistas controladores e os acionistas minoritários.

Fabio Coelho, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (AMEC)

Coelho ressalta que tal concentração não é necessariamente ruim: um acionista controlador com uma clara visão estratégica é visto com bons olhos por investidores porque ajuda a dar uma direção positiva a suas empresas.

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