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‘Rouba-monte’ de talentos e seguro que pouco inova são desafios para a gerência de riscos

Entrevista com Thiago Amorim, da iFood e da ABGR

Thiago Amorim (Foto: Divulgação)

A escassez de profissionais gabaritados para trabalhar na área de gerência de riscos está alimentando um “jogo de rouba-monte” entre as empresas, que muitas vezes hesitam em investir na formação de novos talentos.

Com isso, fica difícil preencher as vagas de uma profissão que ganha importância nas organizações com a emergência de novos riscos e tecnologias como a inteligência artificial.

É o que afirma Thiago Amorim, gerente de riscos e seguros da iFood, para quem é importante para as empresas contarem com profissionais capazes de negociar com um mercado segurador que ainda se mostra relutante em oferecer produtos inovadores a seus clientes.

As seguradoras ainda possuem uma cultura antiga. Elas são avessas a novas tecnologias ou projetos pilotos.

Thiago Amorim

Em entrevista à RSB, Amorim, que também é diretor da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR), ressalta, porém, que já começa a identificar uma vontade entre as seguradoras de escutar mais aos seus clientes para oferecer coberturas feitas sob medida para suas necessidades.

O exemplo que vem de fora

Ele fala com experiência de causa. A iFood, líder do mercado de delivery de alimentação, tem dificuldades em encontrar no Brasil coberturas para riscos inerentes ao seu negócio, como o seguro cibernético ou de acidentes para entregadores.

Para conseguir preencher programas dessa característica, Amorim teve que buscar soluções em mercados internacionais, seja através do resseguro global, seja mostrando para as seguradoras nacionais produtos oferecidos em mercados como o Leste Asiático.

As seguradoras querem vender um produto de cyber, mas não para as empresas de tecnologia.

Thiago Amorim

Ele conta que jurisdições como Londres estão muito mais acostumadas a trabalhar com empresas de tecnologia e não sentem tanto receio em oferecer as capacidades que elas necessitam. No Brasil, porém, ainda há uma tendência em tentar emplacar produtos de prateleira que não cumprem com as expectativas de setores relativamente novos da economia.

Mas Amorim ao menos vê algo de evolução positiva nos últimos anos, principalmente por parte dos corretores, que estão aprendendo mais sobre os negócios de seus clientes e ajudando a pressionar as seguradoras a fazerem o mesmo.

“No meu setor, a gente tem sido atendido melhor. As seguradoras estão saindo um pouco dos produtos de prateleira e oferecendo algo mais de produtos especiais para empresas de tecnologia. Eu tenho gostado da evolução”, afirma.

Ele acredita que um mercado cada vez mais competitivo também está ajudando a colocar um pouco de urgência nas atividades dos subscritores nacionais.

“Hoje está difícil para as seguradoras obterem crescimento orgânico de mais de dois dígitos. É preciso desenvolver novos negócios e novo produtos para chegar a esse patamar”, diz. “O mercado ainda não está caminhando na mesma velocidade que os clientes, mas está acelerando.”

Tem que dar um empurrãozinho

A inovação, porém, continua a ser um desafio para o setor. Amorim menciona o tema da inteligência artificial como uma tarefa que continua pendente para o mercado.

“Nós já trabalhamos com modelos de inteligência artificial desde 2018, e o negócio cresceu de maneira exponencial por conta disso. Mas não vejo o mercado de seguros ainda trabalhando a IA ou modelos de algoritmos, e muitos menos a IA generativa, que é mais recente. Para mim, isso não é nem o futuro, é o presente”, afirma.

O fato de que o setor de seguros é lento na hora de inovar não é segredo para ninguém. E menos ainda no Brasil, onde durante décadas o mercado esteve engessado por um longo monopólio de resseguros e por restrições aos clausulados das apólices que só foram relaxadas pela Susep nos últimos anos.

A liberação dos clausulados motivou as seguradoras a tentarem ganhar mercado vendendo coberturas sob medida para as empresas. No entanto, para maximizar suas coberturas, as empresas precisam de gerentes de riscos com conhecimento suficiente para identificar os riscos mais importantes e negociar com as seguradoras para que desenvolvam produtos mais adequados a suas necessidades específicas.

Tudo isso aumenta a demanda por profissionais gabaritados em gerência de riscos e seguros corporativos, cuja oferta não é das mais exuberantes no mercado brasileiro, como observa Amorim.

No Brasil, a gente aprende um pouco na prática. Há uma defasagem de mão-de-obra qualificada para contratar. É preciso fazer um investimento muito alto para desenvolver um profissional da área desde o início.

Thiago Amorim

Ele nota que há também uma escassez de oportunidades de formação de profissionais. Há poucos cursos sobre o tema no mercado, e nenhum no nível de graduação, o que constitui em si mesmo um problema para o setor.

“Os riscos vão mudando ao longo do tempo. O mercado precisa trazer pessoas que estão saindo agora da universidade para a nossa área para trazer uma nova sensibilidade aos riscos,” afirma Amorim.

Os riscos de investir em formação

O resultado é que as empresas precisam investir na formação de profissionais da área in house. Mas isso também acarreta seus próprios desafios.

Como há menos profissionais qualificados do que o mercado precisa, aqueles que começam a despontar chamam a atenção de outras empresas, ademais de corretores e seguradoras.

Hoje no mercado é como um jogo de rouba-monte. Uma empresa pega o profissional já formado da outra.

Thiago Amorim

Agora se teme que a nova Lei dos Contratos de Seguros, que espera a sanção presidencial, pode fazer o mercado retroceder aos tempos dos clausulados pré-aprovados pela Susep, colocando novos obstáculos à oferta de produtos de seguros inovadores.

Será mais um desafio que as empresas terão que enfrentar para conseguir financiar suas exposições, especialmente se, confirmando as previsões mais pessimistas, a nova lei também acabe restringindo o acesso à capacidade de resseguro internacional.

Mas ainda há dúvidas sobre o real impacto da nova lei, que deve começar a morder em 2026. De qualquer maneira, Amorim diz que o mercado vai ter que se adaptar para continuar melhorando seu atendimento às empresas brasileiras.

O papel dos corretores vai ser muito importante quando a lei entrar em vigor. Eles têm que se debruçar sobre a nova regulamentação e entender como é que a gente não vai perder a capacidade de inovação, de lançar novos produtos.

Thiago Amorim

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