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Poliana Ituassu (Wilson Sons): Ênfase em gerência de riscos rende frutos em mercado segurador difícil
Gerente de seguros de grupo portuário diz que setor está investindo no aprimoramento de processos e na integração de princípios ESG a suas atividades
Poliana Ituassu, gerente de Seguros da Wilson Sons (Foto: Divulgação)
O mercado ainda não está fácil para os compradores de seguros, mas a Wilson Sons tem conseguido manter o custo de seus programas sob controle graças à ênfase que a companhia dá à gestão de riscos.
É o que afirma Poliana Ituassu, gerente de Seguros da maior operadora de logística portuária e marítima do Brasil.
Em entrevista exclusiva à RSB, Ituassu fala sobre a necessidade que as empresas do setor têm de estar atentas à evolução dos riscos a que estão expostas, incluindo ambientais, catastróficos e cibernéticos, e seguir investindo em mitigação e prevenção.
Ela também diz que o setor deve dar aprender as lições dadas por eventos como o choque do cargueiro Dali com a ponte Key, em Baltimore (EUA), que causou distúrbios de acesso ao porto da cidade. Leia abaixo a entrevista:
RSB - Quais são os principais riscos enfrentados pelas empresas do setor portuário hoje no Brasil?
Poliana Ituassu – No que diz respeito aos riscos seguráveis, acredito que dentre as três principais exposições das empresas do setor portuário estão as seguintes:
Risco ambiental, uma vez que a responsabilidade atribuída às empresas que podem ir além da reparação e recuperação do ambiente, contemplando multas, imposições de ajustamento de conduta pelas autoridades, e indenizações à comunidade afetada. Tais responsabilidades podem alcançar não apenas as empresas, mas também seus conselheiros, diretores e executivos.
Risco de catástrofe natural, pois, em virtude das mudanças climáticas, espera-se que os eventos naturais extremos se tornem mais frequentes e intensos. Isso exige que as empresas do setor portuário implementem medidas de adaptação e resiliência para mitigar os riscos associados, reduzir seus possíveis impactos, e garantir a continuidade de suas operações.
Ataques cibernéticos, que têm sido uma preocupação crescente, à medida que as operações portuárias se tornam mais automatizadas, dependentes de tecnologias digitais e sistemas de informação. Nesse contexto, investimentos em segurança cibernética, controles de acessos, monitoramento das tentativas de ataque e treinamento dos usuários são fundamentais.
Ademais, é importante a elaboração e divulgação do plano de resposta a incidente, com papéis e responsabilidades definidas e instauração do Comitê de Crise com diretrizes e procedimentos para estabelecer um porta-voz corporativo, procedimentos de aprovação e encaminhamento para preparar informações ou press releases. Sem esquecer que as 48 horas pós-evento são cruciais.
O setor está dando a prioridade que deve à gestão de riscos nas instalações portuárias? O que se pode fazer para aprimorar a gestão de riscos no setor?
A gestão de risco evoluiu muito nos últimos anos em vários segmentos, e no setor portuário não foi diferente. No caso da Wilson Sons a cultura de segurança com desenvolvimento contínuo é uma prioridade máxima.
Além disso, para a perenidade das empresas, tornou-se estratégico e essencial incorporar questões de sustentabilidade à gestão portuária.
Há uma demanda crescente, desde clientes até investidores, acionistas, órgãos reguladores e da sociedade em geral, em relação a temas ambientais, sociais e de governança.
É fato que o gerenciamento de riscos é dinâmico e sempre há oportunidades de aprimoramento. Por isso, as empresas devem estar atentas aos fatores internos e externos e seus impactos na identificação, avaliação e mitigação dos riscos.
No entanto, é importante dizer que grandes empresas do setor vêm trabalhando massivamente na educação e conscientização da liderança e de todo o time envolvido na operação sobre a importância da gestão de riscos e os benefícios que ela pode trazer em termos de segurança, eficiência e conformidade regulatória.
Dentre as principais ações que visam o aculturamento e aprimoramento da gestão de risco, cabe citar a implementação de padrões e melhores práticas de segurança, a utilização da tecnologia para análise de dados, a modelagem de risco e monitoramento, e um plano de emergência robusto que garante à continuidade das operações, minimizando possíveis perdas.
A figura do gestor de riscos é comum nas empresas do setor? É difícil encontrar pessoal qualificado para trabalhar na área?
Sim, o papel do gestor de risco tem ganhado protagonismo principalmente nas grandes empresas, que têm entendido a relevância estratégica do gerenciamento de risco para garantir uma estabilidade financeira diante de eventos externos, súbitos e imprevistos.
Para tanto, a autonomia do gestor de risco e o reporte direto à presidência e seus executivos têm sido adotados como uma boa prática para garantir a imparcialidade da identificação e quantificação dos riscos e ameaças a que a empresa possa estar exposta.
No que diz respeito a profissionais qualificados, o mercado está aquecido. Porém, ainda é muito comum as empresas apostarem no desenvolvimento e qualificação de profissionais internos, valorizando o conhecimento técnico sobre as operações e familiaridade com a cultura da empresa.
Vimos recentemente os danos causados ao porto de Baltimore pelo choque do navio Dali com a Ponte Keys. Você diria que os portos brasileiros estão preparados para enfrentar um risco similar?
É inegável que eventos como o do porto de Baltimore levantam preocupações sobre a segurança e colocam em xeque a capacidade de resposta dos portos em todo o mundo quando ocorre uma crise.
A capacidade de resposta a emergências é uma parte essencial da gestão portuária, e é de se esperar que os portos tenham planos de contingência em vigor para lidar com situações que possam interromper o acesso de embarcações e/ou comprometer a operação dos portos.
Contudo, a cada dia vemos embarcações maiores não apenas em tamanho, mas em potência. Logo várias lições aprendidas e novos padrões de segurança deverão ser gerados a partir do evento com o navio Dali.
A prevenção, no entanto, está diretamente relacionada à modernização dos portos, investimentos em infraestrutura e tecnologia, inteligência de dados que permita o monitoramento em tempo real do calado e controle da navegação, além de simulações de cenários de emergência.
Você está satisfeita com as coberturas oferecidas pelo mercado de seguros? É possível hoje colocar todos os riscos que a Wilson Sons gostaria de transferir para o setor segurador?
O mercado de seguros é um ambiente muito regulado. Especificamente no que diz respeito ao setor marítimo e portuário, o produto comercializado pelas seguradoras já está bem consolidado no mercado.
Em minha opinião, a fragilidade não está nas coberturas oferecidas. Essas apólices são All Risks e cobrem os principais riscos de perda material, responsabilidade civil e perda de receita.
Terminal da Wilson Sons em Rio Grande (RS) (Foto: Divulgação)
A questão é o apetite das seguradoras para oferecer capacidade para operações que exigem limites altos.
Nesses casos vale o trabalho em conjunto com o consultor de seguros e as potenciais seguradoras para avaliar alternativas na forma de colocação do risco, com a possibilidade de cosseguro, contratação de resseguro, e eventualmente gestão de apólices a primeiro e segundo risco.
Quais são os riscos mais difíceis de colocar no mercado hoje em dia, e que soluções o mercado lhe oferece para financiar esses riscos?
Considero que os riscos mais difíceis de se colocar no mercado são os de alta frequência e baixa severidade. E a solução para essa lacuna é a retenção do risco pelo próprio segurado por meio de uma gestão de risco eficiente “dentro de casa”, que vise a segurança das suas operações e integridade dos seus ativos.
O segurado deve ser o maior interessado em tratar seus riscos e mitigar suas perdas. As seguradoras, no entanto, esperam que sejam transferidos pelos seus clientes os riscos de baixa frequência e alta severidade.
Porém o financiamento e aceitação desses riscos pelo mercado, com uma correta subscrição técnica, exige do segurado clareza ao demonstrar seus controles operacionais, seus programas de segurança e gestão dos ativos, além da rastreabilidade dos dados e histórico de sinistros.
Lembrando que a falta de informação pela seguradora é compensada pelo agravo de taxa ou mesmo a recusa do risco.
Como estão os níveis de preço, franquias e condições oferecidas hoje ao setor? O mercado está duro, já começou a abrandar, ou deveria começar a abrandar neste ano?
Estou à frente da gerência de seguros da Wilson Sons há quase cinco anos. Durante este período, as alterações de taxa, franquias e condições foram marginais.
O trabalho robusto de gestão de risco e a baixa sinistralidade nos últimos anos nos permitiram trabalhar com uma certa estabilidade nas taxas e condições negociadas com o mercado.
Contudo, isso não quer dizer que o mercado está favorável para o segurado. Como mencionei anteriormente, a quantidade de seguradoras locais com apetite para grandes riscos vem diminuindo.
Por sua vez, o mercado internacional vem sofrendo com desastres no setor, o que tem impacto direto no resultado da carteira. Consequentemente, os contratos de resseguro que suportam as seguradoras locais estão mais caros.
Dito isso, acredito que o mercado internacional ainda permanecerá duro nos próximos anos, visando a recuperação dessas grandes perdas sofridas e equalização econômica da carteira, sendo esperado que este movimento continue a afetar o mercado segurador local.
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