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Altas de retenção primária e de cosseguro mostram forte demanda por resseguro
Estudo (Re)Vision Research explica como atores globais faturam com a tendência, mas tem vantangem quem conta com uma presença no Brasil

Leito de rio durante seca em Manaquiri (AM), em imagem feita em outubro: eventos climáticos vão exigir cada vez mais capacidade de resseguros (Crédito: Ricardo Stuckert/PR)
As seguradoras primárias estão fazendo cada vez mais uso do resseguro para reduzir suas exposições de risco, mostra um novo estudo sobre o setor.
O estudo (Re)Vision Research, publicado pela editora Roncarati, também revela um aumento do uso do cosseguro entre as subscritoras nacionais, refletindo uma forte demanda por maneiras de mutualizar o risco – mas também, talvez, uma falta de apetite dos resseguradores locais.
Elaborado pelo consultor Franciso Galiza e por Rodrigo Botti, head de Resseguros por Contrato da Lockton, o relatório lança luz sobre um setor cujo crescimento se acelerou desde a pandemia, mas que parece estar na mira da Susep para uma reorganização.
Os autores notam que o crescimento do volume de prêmios de resseguros se acelerou após a pandemia de Covid-19, chegando a 50% ao ano no final de 2021, até estabilizar-se em cerca de 10% nos últimos anos.
Com isso, a participação do resseguro no universo de riscos transferidos ao mercado no Brasil aumentou de 12% para 16% no mesmo período.
Em 2008, quando se rompeu o monopólio estatal de resseguros, menos de 10% dos prêmios ganhos pelo mercado primário eram cedidos para as resseguradoras.

Fonte: (Re)Vision Research
Mais prêmios que vão e menos prêmios que vêm
O estudo mostra com números a tendência do mercado brasileiro de contar cada vez mais com capacidade internacional de resseguros.
Os prêmios retidos pelas seguradoras primárias caíram 4,7 pontos percentuais em seis anos, fechando 2024 em 84,4%.
Quem mais aproveitou esta tendência foi o resseguro global, seja obtendo prêmios diretamente das cedentes, seja através de retrocessão. Os autores calculam que, em 2018, 59% dos prêmios transferidos pelas cedentes brasileiras eram retidos pelas resseguradoras locais. Desde então, esse número caiu para 30%.
No entanto, o mercado parece ainda estar premiando quem está presente no país. Quem mais cresceu no período, segundo os autores, foram empresas que têm a capacidade de integrar verticalmente suas operações com uma presença tanto local como internacional.

Fonte: (Re)Vision Research
Por outro lado, a recepção de prêmios internacionais pelas resseguradoras locais, o que os autores chamam de exportação de resseguros, caiu muito nos últimos anos – refletindo o redirecionamento estratégico do IRB(Re), que encolheu em muito sua presença internacional desde o escândalo de 2021.
Em 2020, as resseguradoras locais receberam R$ 5 bilhões em prêmios vindos do exterior, comparado com R$ 1,8 bilhão no ano passado.
A volta do cosseguro
Outro desenvolvimento ressaltado pelos autores foi o retorno do cosseguro à agenda das seguradoras.
Se em 2021 os prêmios de cosseguro chegava a R$ 2,5 bilhões, em 2024 o total foi de R$ 5,3 bilhões.
Em termos proporcionais, o crescimento não impressiona tanto, já que passou de 2% a 3% do total de prêmios em um mercado que segue se expandindo.
Para os autores, porém, essa tendência pode não ser uma notícia das melhores para o mercado.
Infelizmente esse crescimento (do cosseguro) pode sinalizar que a oferta de resseguro não está suprindo a necessidade do mercado segurador brasileiro, que volta a olhar com mais intensidade a cooperação entre seguradoras (...) como alternativa a parcerias com resseguradoras.
Os autores observam que, antes da abertura do mercado, a participação do cosseguro chegou a 6% do total de prêmios “em grande parte pela limitação nos produtos de resseguros disponíveis”. Em outras palavras, o monopólio estatal mantido pelo atual IRB(Re) não conseguia satisfazer as necessidades do mercado.
A situação mudou com a chegada de 13 novas resseguradoras locais desde 2008 e a crescente abertura para o resseguro internacional.
No entanto, as resseguradoras locais e internacionais apertaram os processos de subscrição nos últimos anos, uma situação agravada pelas secas e enchentes de 2022 a 2024.
Agora que o mercado internacional está se tornando mais brando, resta ver se a tendência de aumento do cosseguro vai se manter.
Também é uma boa hora para discutir se vale a pena restringir o acesso ao mercado global em um momento em que parece que as cedentes já encontram alguma dificuldade para transferir suas exposições de riscos.
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