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Flexível mas complexo, seguro paramétrico cresce no Brasil
Coberturas, normalmente contratadas no exterior, cobrem excesso de perdas e exigem entre 9 e 12 meses de negociação, diz Marsh

Carolina Jardim, diretora de Credit Specialty da Marsh Brasil (Crédito: Divulgação)
A demanda por seguros paramétricos está em alta no Brasil, com o volume de prêmios aumentando cerca de 20-25% ao ano, de acordo com a corretora Marsh.
Os seguros paramétricos são coberturas acionadas quando um evento tem uma dimensão superior a um índice pré-acordado pelas partes. Ou seja, é independente da ocorrência ou não de perdas financerias por parte do cliente.
Tratam-se de produtos que estão crescendo em bom ritmo no mercado global e são utilizados especialmente para transferir riscos ligados a eventos climáticos.
No Brasil, os paramétricos têm sido destinados sobretudo a coberturas de perdas causadas tanto pelo excesso quanto pela falta de precipitações atmosféricas. O setor agrícola é o principal público para este tipo de produto – segundo a Swiss Re, a demanda global por seguros paramétricos pelas empresas do ramo tem aumentado entre 15% e 20% ao ano.
É uma tendência que reflete uma conscientização cada vez maior das empresas sobre a importância de se protegerem contra eventos climáticos extremos.
Mas Jardim diz que também já há casos de empresas de energia renováveis buscando proteção contra a falta de vento e de grupos de saneamento protegendo-se contra a redução dos níveis de seus depósitos de água.
E ela conhece ao menos um caso de companhia, na área de navegação de cabotagem, que buscou um seguro acionado quando o calado de um rio se reduz tanto que suas embarcações não podem circular.
Uma cobertura flexível
Jardim destaca que a flexibilidade é uma das grandes vantagens oferecidas pelos seguros paramétricos. De certa forma, se um risco pode ser medido de maneira confiável, produzindo um índice de referência, ele pode ser alvo de uma apólice do tipo.
A vantagem do paramétrico é que você consegue customizá-lo para qualquer tipo de risco, e nenhuma apólice é igual a outra.
No entanto, segundo ela, no mercado brasileiro as coberturas ainda são ligadas necessariamente aos eventos climáticos.
Isso apesar de que boa parte das apólices são contratadas no exterior, onde já há seguros paramétricos para riscos como os danos à reputação ou lucros cessantes sem danos à propriedade.
No primeiro caso, as coberturas podem ser acionadas quando um evento reputacional causa um nível de perdas refletidos no balanço do cliente. No segundo, quando um evento, como um ataque terrorista, reduz o fluxo de visitantes em um shopping center, hotel ou outros tipos de negócios.
Em recente entrevista à RSB, Christian Mendonça, head de Riscos e Seguros da Norsk Hydro no Brasil, cobrou que está na hora de o mercado expandir o uso dos paramétricos para além dos riscos climáticos.
Dados confiáveis são um desafio
Se é verdade que as coberturas são flexíveis, também é um fato que os seguros paramétricos dependem muito da qualidade dos dados utilizados para determinar os seus gatilhos.
Por esse motivo, as seguradoras costumam se valer de bases de informações públicas captadas por satélites da NASA ou da NOAA, o serviço meteorológico do governo americano.
Mas os clientes também podem ajudar a aumentar a granularidade das apólices instalando seus próprios instrumentos de medição. Isso ajuda a conseguir melhores preços em condições em um mercado como o Brasil, onde a coleta de dados meteorológicos não está nos mesmos níveis que na Europa, EUA ou Japão.
Muitos clientes instalam os seus próprios medidores pluviométricos, e nós buscamos conseguir uma certificação dos dados coletados.
Um produto para clientes sofisticados
O que reflete uma outra dificuldade para uma maior disseminação dos paramétricos. Para poder contratá-lo, o cliente necessita dispor de um importante grau de sofisticação.
E não só para assegurar a qualidade dos dados. Jardim observa que o preço de uma apólice de seguro paramétrico vai variar de acordo com a probabilidade de ocorrência do evento e do valor da indenização negociada com a seguradora.
O custo é palatável, mas é diretamente influenciado pelo parâmetro utilizado e o limite de cobertura que o cliente quer. Se o cliente quer cobertura para um evento que ocorre uma vez a cada dois anos, o prêmio será mais ou menos de 50%.
Em outras palavras, o comprador precisa ter muito claro a partir de quanta quantidade ou escassez de chuvas o impacto em seu negócio será crítico. Da mesma maneira, precisa poder estimar os prejuízos que sofreria nesse caso, e quanto desse prejuízo seria coberto por seus programas tradicionais de seguros.
Isso porque, segundo Jardim, os paramétricos são usados no Brasil em geral para cobrir as camadas de excesso de perdas nos programas. A utilização desses seguros para cobrir as franquias cada vez mais elevadas pedidas pelas seguradoras ainda não é comum no país.
Tudo isso faz com que a negociação de uma cobertura seja um trabalho complexo que pode durar entre nove e doze meses, segundo a executiva.
“Muitas vezes as apólices são emitidas no exterior, e o que a gente percebe é que não se trata de um produto de prateleira”, disse ela.
Por esse motivo, uma das preocupações da Marsh tem sido realizar um trabalho de “evangelização” de potenciais cobradores sobre as vantagens e as complexidades do seguro paramétrico.
E os mercados massificados?
Jardim acredita que é complicado oferecer essas coberturas para o mercado massificado. Na opinião dela, seria difícil, por exemplo, explicar para um pequeno agricultor que sofreu uma perda com excesso de chuva que não receberá o pagamento porque o índice pluviométrico incluído na apólice não foi atingido.
Se uma seguradora colocar um produto no mercado, ela tem que assegurar que não vai frustrar a expectativa de pessoas que contam com essa proteção.
Mas já há algumas experiências nesse sentido ocorrendo pelo mundo, muitas vezes financiadas por organismos multilaterais como o Banco Mundial, mas outras contando com a participação do setor privado.
Por exemplo, na Colômbia, a Liberty Mutual Reinsurance lançou em maio uma cobertura paramétrica contra seca e enchente direcionados ao pecuaristas do país.
Por outro lado, Jardim vê a expansão dos produtos paramétricos chegando a setores como os créditos de carbono, cujo mercado foi recentemente regulado no Brasil.
“Seguradoras especialistas estão surgindo na Europa e no Reino Unido que oferecem proteção de transações relacionadas a créditos de carbono de carbono”, disse ela.
Seguros paramétricos para a área garantiriam, por exemplo, que os compradores cumpririam suas quotas, ainda que os produtores não consigam gerar os créditos prometidos.
Como o Brasil desponta como um pontencial grande exportador de créditos de carbono, o setor pode ser uma fonte de grandes oportunidades para o mercado.
O seguro paramétrico deve começar a ser visto como mais uma solução para viabilizar iniciativas sustentáveis.
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