O mercado global de seguros cibernéticos chegou a um momento de estabilidade, mas a situação pode voltar a se deteriorar caso os preços caiam demais e grandes ataques sistêmicos se materializem.

Essa é a análise da agência de avaliação de crédito AM Best, que publicou nesta segunda-feira, 24 de junho, dois relatórios sobre o segmento.

A agência qualifica a perspectiva para o mercado de seguros cibernéticos como “estável”, em grande parte graças ao endurecimento das exigências de subscrição por parte de seguradoras e resseguradoras e também de uma melhor gestão da segurança cibernética pelos segurados.

Como resultado, compradores de seguros de vários países dizem que os preços das coberturas já não são tão altos como nos últimos dois anos, ainda que a subscrição siga sendo bastante dura.

Prós e contras

Entre os fatores positivos para o mercado, se destacam um crescimento sustentado da demanda por coberturas, que cada vez mais interessam às pequenas e médias empresas, e uma esperada melhoria da rentabilidade do segmento no médio prazo.

A AM Best destaca que os cibernéticos recebem forte suporte do mercado ressegurador, para quem cerca da metade dos prêmios são cedidos, um percentual mais alto do que o de outras linhas de negócio.

Além disso, o incipiente mercado ILS para riscos cibernéticos, através dos quais se atrai investidores dos mercados de capitais para o setor, também fazem prever que capacidade seguirá abundante para o segmento.

Do lado negativo, a AM Best observa que os ataques cibernéticos estão cada vez mais sofisticados e utilizam novas tecnologias como a inteligência artificial para aumentar sua eficácia.

O risco agregado representado pelo uso extensivo de sistemas informáticos baseados na nuvem é outra preocupação, e a forte dependência do mercado de resseguros significa que, se o humor das resseguradoras azedar outra vez, o mercado de riscos cibernéticos pode sofrer.

Estados Unidos

Para saber os rumos do segmento, talvez a melhor opção seja olhar mais de perto o mercado dos Estados Unidos, que ainda concentra cerca de dois terços de todos os prêmios de seguros cibernéticos em todo o mundo.

Lá, devido a um aumento da concorrência, os preços estão em baixa, e, como resultado, o volume de prêmios cresceu apenas 0,1% em 2023, apesar de um forte aumento no número de apólices vendidas, aponta a AM Best.

Entre 2019 e 2022, o total de prêmios de seguros cibernéticos mais do que triplicou nos Estados Unidos.

O segmento cresceu de forma mais acelerada que os seguros para empresas em geral, mas ainda representa uma parte marginal da indústria.

Em 2023, os seguros cibernéticos, com prêmios de US$ 7,244 bilhões, não passavam de 1,5% do total do mercado americano.

O mercado também já aparece algo mais pulverizado, com as 10 líderes somando 50,4% do total de prêmios, enquanto as top 20 concentra 75%.

Sinistralidade em baixa

Além de uma competição mais acirrada, a AM Best afirma que o mercado americano também se beneficia de uma clara melhora dos níveis de cibersegurança das empresas e uma consequente queda nos índices de sinistralidade.

Com isso, apesar de um aumento de 50% nos sinistros causados por ataques de ransomware no ano passado, os pagamentos caíram no decorrer do ano.

A agência cita fontes da indústria seguradora segundo as quais 70% dos casos de ransomware reportados por clientes se solucionaram sem necessidade de pagar o resgate pedido pelos criminosos.

Com a primeira linha de sinistros sob maior controle, o setor agora está buscando maneiras de administrar o risco de agregação de perdas devidas a ataques cibernéticos sistêmicos.

Modelos probabilísticos foram desenvolvidos para prever o possível impacto de tais ataques, mas, como nenhum evento sistêmico ocorreu até agora, não é possível dizer que eles funcionam, e as empresas relutam em confiar demasiado nos modelos existentes, afirma a AM Best.

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