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A proposta da CNSeg contra os desastres naturais: uma nova tunga na conta de luz

Também nesta semana: Poliana Ituassu conta por que a Wilson Sons prioriza a gerência de riscos; Christian Mendonça (Norsk Hydro) explica por que procura ir todos os anos à conferência da RIMS

Esta semana a gestão de riscos ganhou destaque no Congresso Nacional. Uma comissão da Câmara dos Deputados debateu a prevenção e transferência de riscos catastróficos, com especialistas apresentando propostas sobre como lidar com uma ameaça que é cada vez mais séria no Brasil.

Entre os participantes, a CNSeg, que propôs a criação do que é, na prática, um imposto para financiar um Seguro Social contra desastres naturais. Na opinião da RSB, uma proposta insatisfatória e problemática - não incentivaria a gestão de riscos por parte dos agentes públicos e ainda por cima oneraria ainda mais uma já muito distorcida conta de luz.

Outros debatedores, porém, apresentaram ideias mais ambiciosas, envolvendo mercados de capitais, seguros paramétricos e outras tecnologias do setor.

O que realmente nos preocupa é a prevenção do risco, e por isso uma das nossas missões é escutar quem trabalha no ramo. Nesta semana, contamos com dois dos profissionais mais destacados da gerência de riscos no Brasil:

  • Poliana Itaussu, da Wilson Sons, que nos fala sobre a gerência de riscos no setor portuário, e

  • Christian Mendonça, da Norsk Hydro e da ABGR, que, em um artigo de opinião, explica por que é importante ir a eventos como a RiskWorld, a conferência da RIMS, que será realizada em maio em San Diego.

Como nosso objetivo é incentivar o maior número possível de leitores a se informar sobre gestão de riscos, nesta semana o conteúdo da RSB é livre. Mas quem quiser ajudar a manter esse projeto em andamento pode se tornar um assinante premium por apenas R$ 50 por mês.

Boa leitura!

Nesta edição:

Congresso debate risco catastrófico, e CNSeg propõe financiar medidas reativas com aumento da conta de luz

Inundação em Bacabal (MA) em abril de 2023 (Foto: Gabriel Correa/Agência Brasil)

A prevenção de desastres naturais nunca foi levada a sério no Brasil. Um debate ocorrido na Câmara dos Deputados nesta semana parece indicar que esta situação está começando a mudar.

Uma reunião da Comissão Especial sobre Prevenção e Auxílio a Desastres e Calamidades Naturais discutiu, durante três horas, ideias para mitigar e transferir o risco de desastres que são cada vez mais comuns e para os quais o Brasil está completamente despreparado.

Foram apresentadas propostas de envolver os mercados de seguros e os mercados de capitais no esforço, de modo a tirar um pouco da pressão sofrida pelas arcas públicas quando ocorrem episódios de enchentes, secas ou até os ciclones que têm atingido o sul do país ultimamente.

Por alguns momentos, o debate até deixou de lado o imediatismo que costuma caracterizar este tipo de discussão no Congress Federal.

O Brasil nunca tratou (desse tema) com o profissionalismo que devemos tratar.

Deputado Evair Vieira de Mello (PP-ES)

Vieira de Mello presidiu a sessão e ressaltou a importância do tema com o exemplo do seu próprio Estado. Em março, o Espírito Santo foi atingindo por fortes cheias que causaram mais de 20 mortes e desabrigaram mais de 5.000 pessoas.

Mais um penduricalho na conta de luz

Não deixa de ser uma pena, portanto, que a ideia mais decepcionante da reunião tenha sido apresentada justamente pela CNSeg, a entidade que representa o mercado segurador no Brasil.

O presidente da organização, Dyogo Oliveira, levou à comissão a proposta de criar um Seguro Social de Catástrofe que garantiria uma indenização imediata de R$ 15 mil para as vítimas de enchentes, alagamentos ou desmoronamentos.

Para financiar este fundo, a CNSeg propõe a criação de uma taxa obrigatória de cerca de R$ 3 que seria adicionada à conta de luz dos contribuintes.

Oliveira não deixou claro como este fundo seria administrado ou que volume de sinistros seria capaz de cobrir.

Apesar de apresentar a proposta como uma ação do setor para mitigar riscos, tampouco explicou qual será a participação do mercado segurador no fundo.

A impressão que se têm, no momento, é que o mercado (ou ao menos a CNSeg) quer criar um novo imposto que cubra os sinistros causados por desastres naturais, sem que o mercado tenha que assumir nada desse risco. De repente pode até oferecer que as seguradoras administrem o fundo, cobrando uma modesta comissão pelo serviço?

No final, a conta cai no bolso do consumidor. Dizer que R$ 3 não faz diferença para ninguém soa até como crueldade em um país em que muita gente tem dificuldades para pagar sua conta de luz. Isso sem falar no caráter injusto do que parece ser uma taxação idêntica para todo o mundo, não importando o tamanho da conta.

Não deixa de ser irônico que o jornal Folha de S.Paulo reportou a proposta na página 9 de seu caderno Mercado do dia 17 de abril, quando na página 7 havia manchetado:

Governo procura mais R$35 bi para baixar a conta de luz.

Folha de S.Paulo, 17 de abril

Alguém pode argumentar que a taxa é cobrada junto com a conta de luz, e não representa, na realidade, mais gastos com energia. Para o consumidor, porém, qual é a diferença? Uma conta de luz com taxa extra continuará sendo uma conta de luz que é preciso pagar todos os meses, só que mais cara.

Ideias mais sofisticadas

A CNSeg afirma que a proposta é fruto de reuniões com o mercado e com especialistas e que visa adaptar para a realidade brasileira as experiências de outros países.

Parece que foi este último ponto o que mais pesou. Propostas que seriam mais eficientes, como a criação de um adicional catastrófico obrigatório às coberturas de danos à propriedade, como existe na Espanha e na França, têm poucas chances de progredir em um país em que ninguém gosta de pagar seguro.

Mas há outras maneiras de melhorar a gestão de riscos catastróficos, por exemplo, envolvendo mercados de seguros, resseguros e de capitais.

Durante a sessão, felizmente, algumas ideias nesse sentido foram apresentadas.

Isadora Carvalho Ferreira Buchala, que é uma analista regional de resiliência do ICLEI, uma entidade de apoio a municípios apoiada pelo governo alemão, explicou que experiências estão sendo realizadas no Brasil para melhorar a análise de riscos das prefeituras, com vistas a ser capaz de, ao final, transferir parte de suas exposições catastróficas ao mercado de seguros.

Pilotos em Porto Alegre e Curitiba já estão em um estado avançado e podem servir de modelo para outras cidades no futuro, afirmou Buchala.

Securitização

Já o economista Gesner de Oliveira, do Instituto de Inovação de Seguros e Resseguros da FGV, disse que a entidade está desenvolvendo um projeto de securitização de títulos que permitirá a governos municipais levantar recursos para reagir ao impacto de desastres naturais.

Hoje em dia até já existem títulos de renda fixa que podem ser usados com esse fim, as Letras de Risco de Seguro (LRS) recentemente aprovadas pelo Conselho Nacional de Seguros.

Segundo Oliveira, tais instrumentos podem atrair investidores tradicionais e também aqueles que aceitam um retorno um menor para implementar políticas de investimentos ESG.

As ferramentas de securitização também podem ser um instrumento atraente para investidores que têm mandatos filantrópicos e buscam colocar seu dinheiro em projetos para gerenciar o risco catastrófico, garantindo assim que os governos municipais consigam acesso a seguros mais baratos.

Gestão de riscos

Porque a melhoria da gestão de riscos, na verdade, é a grande vantagem de envolver o mercado de seguros na luta contra os efeitos das mudanças climáticas.

Como o mercado não quer ter que pagar sinistros, vai pressionar a todos os outros participantes para que invistam na gestão de riscos catastróficos. Se não, não tem seguro.

A utilização dos seguros fomenta a mitigação de riscos pelo ente federado.

João Rabello, diretor de novos negócios do IRB(Re)

É verdade que, para que o mercado participe, é necessário tomar medidas mais complicadas do que simplesmente criar uma nova tunga na conta de luz. Por exemplo, os eventos climáticos de maior relevância para o Brasil, como as secas e inundações, ainda são de difícil modelização pelas seguradoras.

Por esse motivo, como observou Rabello, empresas como o IRB(Re) estão investindo em suas capacidades de modelização. A resseguradora defende a criação de um centro de pesquisa sobre riscos climáticos para formar cientistas especializados nos riscos característicos do mercado local, disse ele.

Aprender com o que já existe

Há na realidade várias maneiras de o mercado se envolver na gestão e transferência de riscos catastróficos, algumas das quais envolvem o uso de coberturas paramétricas e de microsseguros, que podem ajudar o mercado levar a cobertura às camadas menos favorecidas da população. Com prêmios, quem sabe, próximos a R$ 3 mensais.

Nem todas as seguradoras gostam de microsseguros, que é uma atividade que exige muito trabalho de campo e muito volume para dar lucro. Mas, se o setor quer mesmo ajudar, de repente vale a pena considerar este tipo de ideia.

Dyogo Oliveira descreveu o Seguro Social como uma maneira de prestar auxílio imediato às vítimas de desastres naturais. Até para isso, porém, existem soluções mais criativas disponíveis no mercado.

Por exemplo, o Chile, o México e vários países da América Central e do Caribe emitem cat bonds no mercado internacional, com o apoio do Banco Mundial, para cobrir despesas de emergências em casos de terremotos e furacões, restringindo a exposição do governo a tais gastos.

Durante o debate, Isabel Blazquez Solano, CEO de Resseguro Brasil na AON, mostrou um slide com mais de duas dezenas de programas implantados em todos os continentes para transferir os riscos catastróficos do setor público.

Países com experiências na área incluem as Filipinas, a Turquia, a Índia e o Egito.

Será o caso de realmente tentar aprender algo dessas experiências e adaptá-las ao mercado brasileiro, poupando no processo a muito abusada conta de luz.

Algo já é progresso

Durante a reunião, Oliveira também mencionou planos para mitigar as exposições catastróficas dos produtores rurais e para a infraestrutura das cidades. Não foram dados mais detalhes, porém, sobre como funcionariam tais iniciativas.

Uma proposta mais concreta (ainda que nada detalhada) foi a de criar um seguro obrigatório contra o rompimento de barragens. Como já passou quase uma década depois da tragédia de Mariana, e cinco anos desde Brumadinho, não dá para ter demasiadas esperanças de que essa ideia avance muito no Congresso.

O fato é que processo legislativo vai levar seu tempo: uma proposta da deputada Tabata Amaral (PSB-SP) de criar um seguro obrigatório para desastres naturais está parado desde 2022 na Câmara.

Mas é inegável que o simples fato de haver uma discussão séria sobre o tema já é um avanço importante, e por isso deve ser celebrado.

Tenho certeza de que o Brasil começa a tomar medidas na direção correta do combate às verdadeiras tragédias derivadas das mudanças climáticas.

Gesner de Oliveira, do Instituto de Inovação de Seguros e Resseguros da FGV

Poliana Ituassu (Wilson Sons): Ênfase em gerência de riscos rende frutos em mercado segurador difícil

Poliana Ituassu, gerente de Seguros da Wilson Sons (Foto: Divulgação)

O mercado ainda não está fácil para os compradores de seguros, mas a Wilson Sons tem conseguido manter o custo de seus programas sob controle graças à ênfase que a companhia dá à gestão de riscos.

É o que afirma Poliana Ituassu, gerente de Seguros da maior operadora de logística portuária e marítima do Brasil.

Em entrevista exclusiva à RSB, Ituassu fala sobre a necessidade que as empresas do setor têm de estar atentas à evolução dos riscos a que estão expostas, incluindo ambientais, catastróficos e cibernéticos, e seguir investindo em mitigação e prevenção.

Ela também diz que o setor deve aprender as lições dadas por eventos como o choque do cargueiro Dali com a ponte Key, em Baltimore (EUA), que causou distúrbios de acesso ao porto da cidade. Leia abaixo a entrevista:

RSB - Quais são os principais riscos enfrentados pelas empresas do setor portuário hoje no Brasil?

Poliana Ituassu – No que diz respeito aos riscos seguráveis, acredito que dentre as três principais exposições das empresas do setor portuário estão as seguintes:

  • Risco ambiental, uma vez que a responsabilidade atribuída às empresas que podem ir além da reparação e recuperação do ambiente, contemplando multas, imposições de ajustamento de conduta pelas autoridades, e indenizações à comunidade afetada. Tais responsabilidades podem alcançar não apenas as empresas, mas também seus conselheiros, diretores e executivos.

  • Risco de catástrofe natural, pois, em virtude das mudanças climáticas, espera-se que os eventos naturais extremos se tornem mais frequentes e intensos. Isso exige que as empresas do setor portuário implementem medidas de adaptação e resiliência para mitigar os riscos associados, reduzir seus possíveis impactos, e garantir a continuidade de suas operações.  

  • Ataques cibernéticos, que têm sido uma preocupação crescente, à medida que as operações portuárias se tornam mais automatizadas, dependentes de tecnologias digitais e sistemas de informação. Nesse contexto, investimentos em segurança cibernética, controles de acessos, monitoramento das tentativas de ataque e treinamento dos usuários são fundamentais.

Ademais, é importante a elaboração e divulgação do plano de resposta a incidente, com papéis e responsabilidades definidas e instauração do Comitê de Crise com diretrizes e procedimentos para estabelecer um porta-voz corporativo, procedimentos de aprovação e encaminhamento para preparar informações ou press releases. Sem esquecer que as 48 horas pós-evento são cruciais. 

O setor está dando a prioridade que deve à gestão de riscos nas instalações portuárias? O que se pode fazer para aprimorar a gestão de riscos no setor?

A gestão de risco evoluiu muito nos últimos anos em vários segmentos, e no setor portuário não foi diferente. No caso da Wilson Sons a cultura de segurança com desenvolvimento contínuo é uma prioridade máxima.

Além disso, para a perenidade das empresas, tornou-se estratégico e essencial incorporar questões de sustentabilidade à gestão portuária.

Há uma demanda crescente, desde clientes até investidores, acionistas, órgãos reguladores e da sociedade em geral, em relação a temas ambientais, sociais e de governança.

É fato que o gerenciamento de riscos é dinâmico e sempre há oportunidades de aprimoramento. Por isso, as empresas devem estar atentas aos fatores internos e externos e seus impactos na identificação, avaliação e mitigação dos riscos.

No entanto, é importante dizer que grandes empresas do setor vêm trabalhando massivamente na educação e conscientização da liderança e de todo o time envolvido na operação sobre a importância da gestão de riscos e os benefícios que ela pode trazer em termos de segurança, eficiência e conformidade regulatória.

Dentre as principais ações que visam o aculturamento e aprimoramento da gestão de risco, cabe citar a implementação de padrões e melhores práticas de segurança, a utilização da tecnologia para análise de dados, a modelagem de risco e monitoramento, e um plano de emergência robusto que garante à continuidade das operações, minimizando possíveis perdas.

A figura do gestor de riscos é comum nas empresas do setor? É difícil encontrar pessoal qualificado para trabalhar na área?

Sim, o papel do gestor de risco tem ganhado protagonismo principalmente nas grandes empresas, que têm entendido a relevância estratégica do gerenciamento de risco para garantir uma estabilidade financeira diante de eventos externos, súbitos e imprevistos.

Para tanto, a autonomia do gestor de risco e o reporte direto à presidência e seus executivos têm sido adotados como uma boa prática para garantir a imparcialidade da identificação e quantificação dos riscos e ameaças a que a empresa possa estar exposta.

No que diz respeito a profissionais qualificados, o mercado está aquecido. Porém, ainda é muito comum as empresas apostarem no desenvolvimento e qualificação de profissionais internos, valorizando o conhecimento técnico sobre as operações e familiaridade com a cultura da empresa.

Vimos recentemente os danos causados ao porto de Baltimore pelo choque do navio Dali com a Ponte Keys. Você diria que os portos brasileiros estão preparados para enfrentar um risco similar?

É inegável que eventos como o do porto de Baltimore levantam preocupações sobre a segurança e colocam em xeque a capacidade de resposta dos portos em todo o mundo quando ocorre uma crise.

A capacidade de resposta a emergências é uma parte essencial da gestão portuária, e é de se esperar que os portos tenham planos de contingência em vigor para lidar com situações que possam interromper o acesso de embarcações e/ou comprometer a operação dos portos.

Contudo, a cada dia vemos embarcações maiores não apenas em tamanho, mas em potência. Logo várias lições aprendidas e novos padrões de segurança deverão ser gerados a partir do evento com o navio Dali.

A prevenção, no entanto, está diretamente relacionada à modernização dos portos, investimentos em infraestrutura e tecnologia, inteligência de dados que permita o monitoramento em tempo real do calado e controle da navegação, além de simulações de cenários de emergência.

Você está satisfeita com as coberturas oferecidas pelo mercado de seguros? É possível hoje colocar todos os riscos que a Wilson Sons gostaria de transferir para o setor segurador?

O mercado de seguros é um ambiente muito regulado. Especificamente no que diz respeito ao setor marítimo e portuário, o produto comercializado pelas seguradoras já está bem consolidado no mercado.

Em minha opinião, a fragilidade não está nas coberturas oferecidas. Essas apólices são All Risks e cobrem os principais riscos de perda material, responsabilidade civil e perda de receita.

Terminal da Wilson Sons em Rio Grande (RS) (Foto: Divulgação)

A questão é o apetite das seguradoras para oferecer capacidade para operações que exigem limites altos.

Nesses casos vale o trabalho em conjunto com o consultor de seguros e as potenciais seguradoras para avaliar alternativas na forma de colocação do risco, com a possibilidade de cosseguro, contratação de resseguro, e eventualmente gestão de apólices a primeiro e segundo risco.

Quais são os riscos mais difíceis de colocar no mercado hoje em dia, e que soluções o mercado lhe oferece para financiar esses riscos?

Considero que os riscos mais difíceis de se colocar no mercado são os de alta frequência e baixa severidade. E a solução para essa lacuna é a retenção do risco pelo próprio segurado por meio de uma gestão de risco eficiente “dentro de casa”, que vise a segurança das suas operações e integridade dos seus ativos.

O segurado deve ser o maior interessado em tratar seus riscos e mitigar suas perdas. As seguradoras, no entanto, esperam que sejam transferidos pelos seus clientes os riscos de baixa frequência e alta severidade.

Porém o financiamento e aceitação desses riscos pelo mercado, com uma correta subscrição técnica, exige do segurado clareza ao demonstrar seus controles operacionais, seus programas de segurança e gestão dos ativos, além da rastreabilidade dos dados e histórico de sinistros.

Lembrando que a falta de informação pela seguradora é compensada pelo agravo de taxa ou mesmo a recusa do risco.

Como estão os níveis de preço, franquias e condições oferecidas hoje ao setor? O mercado está duro, já começou a abrandar, ou deveria começar a abrandar neste ano?

Estou à frente da gerência de seguros da Wilson Sons há quase cinco anos. Durante este período, as alterações de taxa, franquias e condições foram marginais. 

O trabalho robusto de gestão de risco e a baixa sinistralidade nos últimos anos nos permitiram trabalhar com uma certa estabilidade nas taxas e condições negociadas com o mercado.

Contudo, isso não quer dizer que o mercado está favorável para o segurado. Como mencionei anteriormente, a quantidade de seguradoras locais com apetite para grandes riscos vem diminuindo.

Por sua vez, o mercado internacional vem sofrendo com desastres no setor, o que tem impacto direto no resultado da carteira. Consequentemente, os contratos de resseguro que suportam as seguradoras locais estão mais caros.

Dito isso, acredito que o mercado internacional ainda permanecerá duro nos próximos anos, visando a recuperação dessas grandes perdas sofridas e equalização econômica da carteira, sendo esperado que este movimento continue a afetar o mercado segurador local.

Artigo: RiskWorld 2024 em San Diego é uma chance única para os gerentes de riscos e as empresas brasileiras

Por Christian Mendonça, gerente sênior de Riscos e Seguros na Norsk Hydro Brasil e conselheiro da ABGR

É fato: A função do gerente de riscos e de seguros está cada vez mais presente nas empresas brasileiras. E para acelerar esse processo, precisamos estar em dia com o que há de mais avançado no mundo em nossa área.

Não existe um lugar melhor para saber o que está acontecendo na área do que a RiskWorld, a conferência anual da RIMS (Risk and Insurance Management Society), a associação dos gerentes de riscos dos Estados Unidos.

Neste ano, a RiskWorld vai acontecer entre os dias 5 e 8 de maio em San Diego, na Califórnia. Eu estarei presente novamente, um movimento que faço praticamente todos os anos desde 2008, e convido meus colegas gerentes de risco a me acompanhar nessa viagem.

Inclusive, nesse ano, terei a oportunidade de ser um dos palestrantes novamente para abordar o aspecto ESG das empresas na América Latina, e como essas características e ações têm influenciado o setor de riscos e seguros na aceitação dos riscos e na negociação dos termos e condições das apólices. A palestra acontecerá no dia 08 de Maio as 11:15hrs locais.

Oferta para membros da ABGR

Participar da RiskWorld é de suma importância aos profissionais de nosso mercado. Além disso, há ainda uma oportunidade única aos associados da ABGR que, graças a um acordo firmado pela ABGR com a RIMS, seus associados têm direito a um tremendo desconto na taxa de inscrição.

Se normalmente os gerentes de riscos têm que pagar valores que podem chegar a até US$ 1.500 para comparecer ao evento, para os membros da ABGR o preço para inscrições chega a ser até 50% mais barato, e há vantagens para alojamento e atividades extras.

Para desfrutar desse desconto, a ABGR está formando uma delegação de gerentes de riscos brasileiros, afim de que esse grupo possa se beneficiar dessa condição diferenciada para participar da conferência em San Diego.

Para dizer a verdade, mesmo sem o desconto, o investimento estaria mais do que justificado. A conferência anual da RIMS reúne os maiores atores do mundo no setor e oferece oportunidades únicas para debater as tendências que vão definir os futuros das empresas, as mais sofisticadas coberturas de seguro e o conhecimento mais avançado na área da gerência de riscos.

A simples dimensão do evento já dá uma boa ideia do que encontraremos em San Diego. A RiskWorld reúne cerca de 10 mil participantes todo os anos. Além de gerentes de riscos de todo o mundo, os principais nomes do seguro global também comparecem em peso ao evento.

Não é sempre que podemos encontrar líderes das maiores seguradoras, resseguradoras e brokers globais em um mesmo lugar, estabelecer conexões relevantes com os principais decisores do mercado global de seguros, bem como explicar a eles o que sua empresa espera em termos de coberturas e serviços, além das características operacionais das mesmas e seus principais projetos e iniciativas em andamento.

Apetite pelo Brasil

Uma oportunidade dessas é especialmente importante em um momento em que o mercado tem demonstrado retomada de apetite, bem como oferecido mais capacidade para negógios no Brasil e em nossa região. Os subscritores querem conhecer novos negócios e diversificar seus portfólios; em San Diego, eles estarão atentos por encontrar potenciais clientes que ofereçam essa possibilidade de diversificação.

Isso possibilita, por exemplo, que uma empresa encontre um produto, ou uma determinada capacidade que ainda não esteja disponível no Brasil e que tape uma brecha de cobertura que até agora não tinha conseguido resolver. Depois, de volta ao Brasil, é trabalhar junto a brokers e seguradoras para que tragam esses novos produtos e capacidade ao mercado local.

Mas as oportunidades de networking não se resumem ao mercado de seguros. Uma das maiores vantagens de um evento como a RiskWorld é poder compartilhar ideias com gerentes de riscos de outras partes do mundo que enfrentam problemas parecidos com os nossos.

Quem não está preocupado hoje em dia com os riscos cibernéticos, com a inteligência artificial ou com as catástrofes naturais? Quem não tem que buscar alternativas para reter um nível cada vez maior de riscos de maneira eficiente? Em que país do mundo as empresas podem ignorar temas como os princípios ESG e a adoção de políticas de diversidade e igualdade?

Esses e outros temas são tratados na RiskWorld deste ano, e vale muito a pena discuti-los com nossos colegas internacionais. Em outros mercados, os gerentes de riscos podem ter encontrado maneiras interessantes de enfrentar esses desafios e estarão dispostos em compartilhar essas experiências. Da mesma forma, também podem se surpreender com algumas das soluções que estamos encontrando e aplicando aqui no Brasil.

Foco setorial

Prefere estar mais focado com a sua indústria em particular? Pois a RiskWorld também proporciona esta possibilidade. Cada ano, sessões temáticas são organizadas por indústria e áreas de especialidade, tratando dos riscos enfrentados pelas companhias destes setores específicos. São temas como aviação, mineração e metalurgia, energia, renováveis, papel e celulose, e vários outros.

Eu, por exemplo, participo todos os anos das discussões sobre o setor de mineração e metalurgia, encontrando colegas de grandes grupos internacionais, como a BHP, Vale e Rio Tinto, entre tantas outras. Ter a chance de trocar experiências com outros gerentes de riscos que enfrentam os mesmos desafios é algo que realmente não tem preço.

Em resumo, a RiskWorld provê uma riqueza de oportunidades sem igual em um período concentrado de quatro dias. Nesse sentido, é um dos melhores investimentos que a empresa pode fazer no aprimoramento de suas práticas de gerência de riscos.

Como profissionais da área, somos recursos que a empresa dispõe para identificar, administrar e tratar os diferentes riscos aos quais a operação da empresa está exposta. Mas esses riscos são mutáveis, assim como o mercado de seguros, e o mundo muda cada vez mais rapidamente.

Em outras palavras, nossas indústrias estão interligadas e são afetadas por diferentes fatores, muitos dos quais ainda nem sabemos quais são. Se o gerente de riscos não se atualizar de maneira constante, não vai conseguir trazer a sua empresa as melhores soluções para os novos desafios que vêm por aí. A RiskWorld é uma oportunidade única de acelerar esse processo.

Se você está interessado em participar da delegação da ABGR, entre em contato com [email protected].

 Nos vemos em San Diego!

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