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Buffet compara seguro cyber a “raticida” e prefere ficar fora do mercado
Em encontro anual de acionistas, Oráculo de Omaha expressa temor a perdas agregadas no segmento
Warren Buffet durante a conferência (Foto: Reprodução)
Um raticida que está na moda: assim é como o megainvestidor Warren Buffet definiu o mercado de seguros cibernéticos no último fim de semana.
Não é preciso dizer, portanto, que a orientação do Oráculo de Omaha para as suas operações de seguros é de manter distância do segmento.
A estratégia pode parecer algo estranha, considerando a quantidade de companhias que vêm lançando coberturas para riscos cibernéticos nos Estados Unidos e em outros países como o Brasil.
Mas Buffet, um bilionário que ficou célebre por ter criado um império empresarial baseado nos investimentos feitos por sua seguradora, a Berkshire Hathaway, afirma que é justamente aí que mora o perigo.
“A maioria das pessoas quer estar envolvida com algo que está na moda quando está subscrevendo seguros, e o cyber é um risco fácil de emitir e que você pode subscrever em grandes quantidades”, afirmou, durante o encontro anual de acionistas da Berkshire Hathaway em Omaha.
Ele observou que os corretores gostam do produto, que lhes gera boas comissões, e por isso incentivam sua venda. Mas o mais importante é levar em conta o enorme risco de perdas agregadas que as apólices de riscos cibernéticos representam.
“É preciso ter (à frente da operação) alguém que entenda que você pode assumir um risco agregado que jamais imaginou”, afirmou.
A natureza humana é tal que muitas companhias de seguros ficarão muito entusiasmadas, e seus intermediários ficarão muito animados. Está na moda e é até interessante. Mas, como Charlie diria, talvez seja um veneno para ratos.
Dilema
Ele se referiu a Charlie Munger, seu legendário sócio, que morreu no ano passado e que, segundo Buffet, era o principal cérebro detrás as bem-sucedidas estratégias de investimento do grupo.
Para Buffet, o principal problema dos seguros cibernéticos é a incerteza que rodeia o seu potencial de causar perdas às seguradoras.
A fim de exemplo, ele recordou os eventos ocorridos em 1968, quando violentas distúrbios atingiram várias cidades americanas ao mesmo tempo após o assassinato de um líder político. (“Não sei se Robert Kennedy ou Martin Luther King Jr., não lembro qual dos dois.”)
Com isso, milhares de coberturas de seguros foram acionadas de uma só vez, causando sérias perdas às seguradoras e ilustrando a possiblidade de ter muitas perdas relacionadas a um mesmo evento de origem.
“Não há um lugar onde este tipo de dilema exista com mais força do que no cyber”, disse Buffet.
“Se você pensa sobre o tema, vamos dizer que está subscrevendo $ 10 milhões por risco, e, se tem que pagar alguns deles, pode absorvê-los. But se (um evento) afeta mil apólices, e elas estão de alguma forma interligadas, isso pode quebrar a empresa.”
A ordem é manter distância
Na mesma linha, Ajit Jain, vice-presidente das operações de seguros da Berkshire Hathaway, afirmou ocasião que transmitiu às seguradoras do grupo que é melhor evitar o segmento.
Eu desencorajei as pessoas que gerem nossas operações a subscrever riscos cibernéticos. Não importa o quanto você cobre, você deve dizer a si mesmo que, a cada vez que você subscreve um risco cyber, está perdendo dinheiro.
A visão negativa tem um olho mais no longo prazo e no potencial de perdas sistêmicas do que no processo de subscrição do dia-a-dia.
Jain admitiu que o risco cibernético está na moda entre seus pares e que hoje se trata de uma linha que provê alta rentabilidade para os subscritores, e que até agora as perdas se mantiveram sob controle.
Mas ainda não há dados suficientes disponíveis no mercado para que sua empresa se sinta cômoda com o risco a ser assumido, afirmou.
“Ainda é muito difícil saber quantas perdas podem estar ligadas a um simples evento, e o potencial de agregação das perdas cibernéticas, especialmente se alguma operação de cloud é interrompida, pode ser enorme”, disse Jain.
Ele ressaltou que a Berkshire Hathaway tende a ver o segmento com precaução e que ainda não chegou o momento, se é que chegará, de entrar no ringue.
“(O cyber) está prestes a se tornar um negócio enorme, mas a nossa estratégia é nos mantermos {a distância neste exato momento, até que tenhamos dados significativos (à disposição)”, observou.
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